quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Fragmentos de Manuele


Depois de um longo período sem o encontrar, Manuele estava lá, sentada na cama onde tantas outras vezes se amaram. A tensão era tão forte, que parecia possível toca-la com as mãos, apanha-la com se fosse um pacote e desmancha-la.
E nenhum dos dois tomava a iniciativa.
Pouco a pouco, no entanto, independente de sua vontade e de seu medo, Manuele reclinou o corpo sobre o peito de seu homem, deixando que ele a envolvesse nos braços e lhe acariciasse o cabelo.Queria mais que um mero abraço, mais que um carinho superficial, mais que um beijo na nuca.
Precisava de um universo de amor para preencher todo o vazio que anos de solidão haviam criado em sua vida.
Sem resistir a força que a impelia parar ele, deixou-se acariciar, trêmula, ansiosa pelo que estava por vir. Sentia que todas as suas defesas rolavam por terra, derrotadas pelo calor dos lábios que deslizavam sobre seu pescoço latejante, procurando a curva sensível de sua orelha, onde se demoraram numa caricia devastadora.
Lentamente, ele afastou a alça da camiseta, que caiu pelo braço, deixando-lhe o ombro inteiramente nu. Então beijou a pele lisa e delicada, que estremeceu como se tivesse recebido a marca incandescente de um metal em brasa.
Macia e sedosa, a barba roçava-lhe o ombro, o pescoço, a orelha, complementando o rastro incendiário dos lábios. Incapaz de fazer um gesto, Manuele apenas usufluia o momento, o coração batendo-lhe tão forte que parecia fazer todo seu corpo estremecer.
Manuele não queria que ele visse a imensidão de desejo estampada em seu rosto.
-Manuele- murmurou ele docemente, num apelo cheio de carinho.
Então esquecida de tudo, ela ergueu a cabeça e o encarou, sem medo, sem inibição.
Nunca tinha visto em seu rosto aquela expressão, um desejo intenso, um olhar tão selvagem, uma boca tão calorosa.
Com uma paixão que ela mesma desconhecia, entreabriu os lábios e esperou pelo beijo que acabou de soterrar qualquer vestígio de lucidez ainda remanescente em seu cérebro entorpecido.
Acariciando-lhe os cabelos, Manuele suspirava, ansiosa por afaga-lhe todo o corpo, por descobrir também os segredos escondidos em cada músculo, em cada nervo, em cada poro. Todo o seu ser ansiava pela união completa, pelo suspiro extremo que assinalaria o término de uma tensão por longo tempo mantida.

Suas mãos agarravam-se a ele como se temesse afogar-se sem a ajuda daqueles ombros forte, daqueles lábios incendiários que não se cansavam de abrir sulcos de chamas em sua pele incandescente.

Mas, agora que já estavam inteiramente entregues à magia do amor, não havia mais pressa, o tempo não mais se media em segundos ou minutos, passara a ser uma dimensão sem medida e sem importância.

Manuele sentiu aquelas mãos segurando-a pela cintura, firmando-se como garras, experimentando a sensação enlouquecedora que a levaria ao delírio e depois a conduziria de novo para o mundo real de cada dia, onde cada objeto retomaria seu lugar e cada minuto passaria outra vez a ser contado no relógio.

Nenhum comentário:

Postar um comentário